Sobre carnaval e bibliotecas

Depois de doze anos morando no Rio, voltei ao Maranhão pela primeira vez em um mês de fevereiro. Duas coisas me motivaram: a primeira delas foi o carnaval (A gente não quer só comida; a gente quer comida, diversão e... diversão!), que por sinal foi maravilhoso; a segunda foi o compromisso de realizar dois treinamentos sobre bibliotecas (escolar e pública). Tudo foi muito bem na viagem, mas algumas questões observadas nos treinamentos me chamaram a atenção e me deixaram alarmado. A maior delas é uma coisa que eu já sabia, mas parecia ter esquecido: o povo brasileiro desconhece o verdadeiro significado da biblioteca.

No treinamento sobre bibliotecas públicas (realizado na cidade de Lagoa Grande, por conta da adesão deste município ao Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas da Biblioteca Nacional), foi bastante recorrente a seguinte expressão: “eu não sabia que biblioteca era isso tudo”.

Pois é! A biblioteca é isso tudo e muito mais. A biblioteca é, do ponto de vista simbólico, a instituição representativa, se não de um avanço de uma determinada sociedade, mas, pelo menos, da tentativa de se alcançar uma condição mais digna para seu povo. Como é de ciência geral, o conhecimento e, por conseqüência, a biblioteca constituem historicamente o ponto nevrálgico no estabelecimento de regimes reacionários, pois é necessário, nestas situações, eliminar qualquer possibilidade de ideias. E é na biblioteca, nos livros, nos filmes, na música (elementos que compõe um acervo) que reside à possibilidade do nascimento das ideias. A biblioteca é por natureza um espaço de resistência.  

Quando alguém diz que “não sabia que a biblioteca era aquilo tudo”, indica o mundo de possibilidades que lhe foi negada desde sempre. Ministrar treinamentos assim me deixou feliz, sobretudo pela possibilidade de levar a mensagem da biblioteca como uma possibilidade nova àqueles que há desconhecia.

Eis que retornando ao Rio, recebo a notícia do fechamento da Biblioteca de Santa Teresa. Vindo de quem vem (do prefeito Eduardo Paes), não me surpreende. Mas essa é uma questão a ser tratada em outra postagem.

Quanto ao carnaval: que venha o próximo!