A passagem do último dia 13 em que se
“comemora” os 123 anos da “abolição” da escravatura me fez recordar uma
passagem do romance Tambores de São Luiz
do escritor, conterrâneo meu, Josué Montello.
Quando os negros souberam da notícia da libertação, saíram em festa pela
cidade. Alguns agrediam seus senhores e provocavam arruaça. A comemoração
avançara pela madrugada, até que ao amanhecer do dia seguinte, muitos negros se
deram conta de que estavam sem teto e sem comida. Não lhes restando
alternativa, alguns voltaram e pediram guarida aos seus ex-senhores e outros
simplesmente ficam pelas ruas promovendo um início de precariedade urbana que
se estende até nossos dias.
Desde os primeiros anos de escola
aprendi que princesa Isabel era heroína. Afinal, ela havia colocado um ponto
final em um dos episódios mais trágicos de nossa breve história como nação: a
escravidão. Contudo, descubro depois que as coisas não foram bem assim. Não
contexto nem que não haja algum mérito no ato da monarca. O que contexto é o
fato de termos sidos enganados por longos anos sob a alegação de que as escolas
deviam aplicar o programa oficial do Estado. Ainda querem me empurrar goela
abaixo que nos países socialistas é se deve seguir uma cartilha.
O fato é que o Brasil já se via alguns
anos pressionado pelo avanço da industrialização, sobretudo pela Inglaterra,
que despontara, desde o século XVII, como a maior potência industrial do mundo.
Carente de novos mercados consumidores, os ingleses avançavam sobre os países
sob regime escravocrata, pois, com a abolição deste regime, se abririam novos
mercados. Isso estava pautado numa lógica muito simples: em um regime de
escravidão não há um mercado consumidor consistente, isso por que se os
escravos não recebem proventos pelo seu trabalho, logo não poderão consumir,
tendo em vista primeiro que não terão dinheiro pra tanto e segundo que suas
necessidades mais básicas já eram supridas por seus senhores. Além do mais, um
país sob regime escravocrata não carece de maquinário para a produção, pois
esta já está amparada pela mão de obra escrava. Como a Inglaterra já alcançara
um patamar de produção que ultrapassava a dos bens primários, produzindo agora
equipamentos que seriam produtores de outros produtos, era necessário que
outras nações aderissem ao processo de industrialização, de modo a se tornarem
consumidores dos equipamentos ingleses.
Com efeito, a pressão inglesa havia se
tornado tão grande que o Brasil não encontrou outra escolha que não assinar a
chamada Lei Áurea, denominação, que por sinal, não tem relação alguma com sua
pretensão que era de abolir a escravidão no Brasil. Na verdade o nome da dita
lei se refere a uma caneta de ouro presenteada pelos ingleses para que a
monarca assinasse o referido documento.
É bem verdade que a questão é bem mais
complexa que isso, contudo, não faz mal nenhum lembrar como carecemos de
observar o que há por traz dos “fatos”, que diariamente nos introjetam. Sendo
assim, o 13 de maio vale ser lembrado como o dia da farsa nacional.
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