sexta-feira, 10 de setembro de 2010

A questão das UPPs


Morro Dona Marta (Zona Sul do Rio), primeira comunidade a ser ocupada pela polícia

Eu estive semana passada assistindo a uma palestra do ex-capitão do BOPE (Batalhão de Operações Especiais/RJ) Rodrigo Pimentel falando sobre a atuação das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) instaladas em comunidades do grande Rio desde o ano passado.
É animador ver tanto otimismo em uma pessoa para com a questão da redução dos índices de criminalidade no Rio nos últimos meses (muito embora devamos sempre desconfiar dos números), sobretudo se esta pessoa for alguém tão envolvido com aspectos mais sociológica da questão da segurança (pelo menos é essa imagem que ex-capitão e roteirista do filme Tropa de Elite procura passar). Vale lembra que Rodrigo Pimentel é também autor do livro Elite da Tropa juntamente com o ex-Secretário Nacional de Segurança Pública (janeiro a outubro de 2003) e ex-Secretário de Segurança do Rio (1999-2000), na gesta de Antony Garotinho, Luis Eduardo Soares que foi exonerado do cargo por denunciar a chamada “banda podre” da polícia civil do estado. 

Contudo, devo dizer que o otimismo demonstrado por Pimentel não é unanimidade. Primeiro por que somos gato escaldado. Sendo assim, temos medo de água fria. E a água fria neste caso é verificar que depois que se passarem as competições que estão por se realizar no Rio nos próximos anos (Copa e Olimpíadas) tenhamos o que aconteceu no Pan-americano de 2007 quando, logo após a competição, o esquema de segurança foi completamente desmantelado. Segundo por que não existe garantia efetiva de que a ocupação irá surtir efeito com relação ao crime organizado. O que se tem nas comunidades ocupadas hoje (e isso é fato) é a diminuição do transito de armas, algo comum durantes décadas. É claro que isso é um ponto positivo, mas a questão não se resume só a isto. Terceiro por que existe um temor que paira constantemente sobre nossas cabeças que é o de tudo isso descambar para um estado policialesco, onde podemos passar da condição de protegidos a de perseguidos. Os anos de chumbo no Brasil não nos deixa ignorar essa possibilidade.
Uma colocação feita por Pimentel que vale ressaltar é o fato deste defender a desarticulação das máfias, que segundo ele, comanda até a venda de cocos nas praias cariocas. Para o ex-policial, a questão deve ser resolvida pela polícia. Contudo, refletindo sobre esta colocação, me pergunto se o poder público não estaria procurando resolver uma questão a partir da repressão, quando não verdade se trata de uma questão não só de segurança, mas, antes de mais nada de cidadania. Repare que estamos falando de trabalho e quem trabalha é por que quer viver honestamente. Pelo menos essa é a lógica. Digo isso porque acredito que no caso das máfias que controlam as mais diversas atividades econômicas (venda de botijão de gás, de coco, de produtos piratas, de transporte público alternativo etc.) são grupos restritos e que a maioria dos indivíduos que se empregam nestas atividades são trabalhadores. Sendo trabalhadores, merecem um tratamento que contemple a questão não do ponto de vista somente da segurança, mas, principalmente, do ponto de vista social.
Se tivesse tido a oportunidade de dirigir a palavra ao palestrante, diria que o que eu lamento mesmo é que ele esteja empregando o seu tão valioso conhecimento da questão da segurança como comentarista da TV Globo e com isso ajude a reforçar os estereótipos reacionários disseminados por esse veículo de comunicação. Mais um Datena não!
Sei que a questão é complexa, mas vale a pena opinar. Por esse motivo convoco o amigo a leitor a dar sua opinião: como você está vendo a questão das UPPs?    

Um comentário:

  1. Tudo bem, Chico
    Bom, apenas acrescento que a baixada Fluminense, especialmente, Duque de Caxias, está recebendo todos os integrantes do tráfico, fugidos nesta operação. As favelas de Caxias, já estão em pé de guerra (policiais contra bandidos, bandidos contra bandidos) para que os "refugiados" se aloquem. Só mudou o endereço! Tudo isto tem prazo de validade, Francisco. Não é uma mudança na essência do problema.

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