Morro Dona Marta (Zona Sul do Rio), primeira comunidade a ser ocupada pela polícia |
Eu estive semana
passada assistindo a uma palestra do ex-capitão do BOPE (Batalhão de Operações
Especiais/RJ) Rodrigo Pimentel falando sobre a atuação das UPPs (Unidades de
Polícia Pacificadora) instaladas em comunidades do grande Rio desde o ano
passado.
É animador ver
tanto otimismo em uma pessoa para com a questão da redução dos índices de
criminalidade no Rio nos últimos meses (muito embora devamos sempre desconfiar
dos números), sobretudo se esta pessoa for alguém tão envolvido com aspectos
mais sociológica da questão da segurança (pelo menos é essa imagem que
ex-capitão e roteirista do filme Tropa de
Elite procura passar). Vale lembra que Rodrigo Pimentel é também autor do
livro Elite da Tropa juntamente com o
ex-Secretário Nacional de Segurança Pública (janeiro a outubro de 2003) e ex-Secretário
de Segurança do Rio (1999-2000), na gesta de Antony Garotinho, Luis Eduardo
Soares que foi exonerado do cargo por denunciar a chamada “banda podre” da
polícia civil do estado.
Contudo, devo
dizer que o otimismo demonstrado por Pimentel não é unanimidade. Primeiro por
que somos gato escaldado. Sendo assim, temos medo de água fria. E a água fria
neste caso é verificar que depois que se passarem as competições que estão por
se realizar no Rio nos próximos anos (Copa e Olimpíadas) tenhamos o que
aconteceu no Pan-americano de 2007 quando, logo após a competição, o esquema de
segurança foi completamente desmantelado. Segundo por que não existe garantia
efetiva de que a ocupação irá surtir efeito com relação ao crime organizado. O
que se tem nas comunidades ocupadas hoje (e isso é fato) é a diminuição do
transito de armas, algo comum durantes décadas. É claro que isso é um ponto
positivo, mas a questão não se resume só a isto. Terceiro por que existe um
temor que paira constantemente sobre nossas cabeças que é o de tudo isso
descambar para um estado policialesco, onde podemos passar da condição de
protegidos a de perseguidos. Os anos de chumbo no Brasil não nos deixa ignorar
essa possibilidade.
Uma colocação
feita por Pimentel que vale ressaltar é o fato deste defender a desarticulação
das máfias, que segundo ele, comanda até a venda de cocos nas praias cariocas. Para
o ex-policial, a questão deve ser resolvida pela polícia. Contudo, refletindo
sobre esta colocação, me pergunto se o poder público não estaria procurando
resolver uma questão a partir da repressão, quando não verdade se trata de uma
questão não só de segurança, mas, antes de mais nada de cidadania. Repare que
estamos falando de trabalho e quem trabalha é por que quer viver honestamente.
Pelo menos essa é a lógica. Digo isso porque acredito que no caso das máfias
que controlam as mais diversas atividades econômicas (venda de botijão de gás,
de coco, de produtos piratas, de transporte público alternativo etc.) são grupos
restritos e que a maioria dos indivíduos que se empregam nestas atividades são
trabalhadores. Sendo trabalhadores, merecem um tratamento que contemple a
questão não do ponto de vista somente da segurança, mas, principalmente, do
ponto de vista social.
Se tivesse tido
a oportunidade de dirigir a palavra ao palestrante, diria que o que eu lamento
mesmo é que ele esteja empregando o seu tão valioso conhecimento da questão da
segurança como comentarista da TV Globo e com isso ajude a reforçar os estereótipos
reacionários disseminados por esse veículo de comunicação. Mais um Datena não!
Sei que a
questão é complexa, mas vale a pena opinar. Por esse motivo convoco o amigo a
leitor a dar sua opinião: como você está vendo a questão das UPPs?
Tudo bem, Chico
ResponderExcluirBom, apenas acrescento que a baixada Fluminense, especialmente, Duque de Caxias, está recebendo todos os integrantes do tráfico, fugidos nesta operação. As favelas de Caxias, já estão em pé de guerra (policiais contra bandidos, bandidos contra bandidos) para que os "refugiados" se aloquem. Só mudou o endereço! Tudo isto tem prazo de validade, Francisco. Não é uma mudança na essência do problema.