Para quem esteve
presente ontem (16/06) no debate “MST: organização criminosa ou movimento social?” na
UERJ, a noite foi no mínimo emocionante, sobretudo pelas palavras de uma figura
tão emblemática da política nacional, como é o caso de Plínio de Arruda
Sampaio, que disputa a eleição à Presidência da República pelo PSOL (Partido do
Socialismo e da Liberdade) nestas eleições.
Sempre muito
simpático, Plínio respondeu as perguntas enviadas pela internet e pelos
presentes (numa dinâmica, por sinal muito bem formulada pela organização do
evento) de forma bem humorada, mas bastante objetiva. De acordo com o
presidenciável, “a Reforma Agrária é indispensável se quisermos viver em um
país mais justo”, ressaltando que “o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem Terra) é o movimento social mais importante que o Brasil criou”.
Brincando com os
estudantes, o Procurador aposentado do Estado de São Paulo, falou que esse é a
hora (se referindo ao período da faculdade) para viver de fato: beber, namorar,
ficar de papo pelos corredores e nos barzinhos, enfim, aproveitar a vida.
Segundo ele, na faculdade de Direito, não vale a pena perder tempo estudando
como se formula um “processo de container” (ou seria contrato de container? Não
lembro mais), pois estes aspectos burocráticos da carreira se aprendem no dia a
dia. “O que se deve priorizar nos tempos de estudante”, afirmou, “é a chance de
debater, trocar idéias”.
Além de Plínio,
estiveram presentes outras figuras importantes para o debate deste tema, tal
como Marcelo Durão, coordenador nacional do MST, que, ao responder uma pergunta
acerca dos possíveis atos de violência praticados pelo movimento, respondeu
indagando o que as pessoas entendem por violência: “seriam os atos legítimos e
legais de ocupação da terra ociosa ou a forma como esses atos são rechaçados
pelo Estado policial?”, indagou.
Também se
mostraram bastante pertinentes as palavras de Carlos Henrique Gondim,
Procurador Federal junto ao INCRA no Rio de Janeiro, explicando como se dá o
processo de desapropriação da terra. Segundo ele, os juízes do Rio são bastante
parciais com relação à questão da Reforma Agrária, inclusive se posicionando
contrário ao que está estabelecido na lei. Para ilustrar sua fala, usou como
exemplo um caso ocorrido no interior do Estado, em que um juiz, por ser amigo
de um fazendeiro, que teve a terra ocupada, ficou atrasando o andamento do
processo até que o proprietário da terra pudesse tirar alguma vantagem na
disputa. Isso, segundo o procurador, comprova que o caminho da legalidade quase
nunca é viável para esse tipo de movimento, tendo em vista esta predisposição
dos juizes em se posicionarem contra os trabalhadores rurais.
Outra fala (pra
mim a mais importante de todas) de grande valia para o debate, foi a de Paula
Mairam, jornalista, ex-reporter da Folha de São Paulo e do Jornal do Brasil.
Segundo ela, existe uma orientação, se não explicita, mas pelo menos
reconhecível, nos grandes veículos de comunicação, de que o tratamento
dispensado ao MST tem de ser o mais hostil possível. Na hierarquização das
notícias (o que deve vir em destaque), por exemplo, se o MST faz uma coisa que
os donos de jornais se sentem obrigados a reconhecer como positivas, a
informação sairá em um espaço pouco visível, no final de alguma página interna
do jornal. Ao contrário, se o movimento prática qualquer ato (seja ele qual
for), este é logo tachado como crimino, e é com esse adjetivo (criminoso) que
ganha destaque na primeira página.
O debate que foi
organizado pelo Núcleo Estudantil de Apoio Reforma Agrária (NEARA), Movimento
"Direito Para Quem?", Associação de Docentes da UFRJ, Associação de
Docentes da UERJ, Consciente Coletivo, Programa de Estudos da América Latina e
Caribe, Outro Brasil – LPP, GeoAgrária, Nós Não Vamos Pagar Nada, Projeto de
Pesquisa Sociologia Urbana/FND/UFRJ, LOCUSS/ESS- Rede de pesquisa sobre poder
local, políticas urbanas e serviço social, CACS – UFRJ e Campanha Somos Todos
Sem Terra se repetirá nesta quinta-feira (17/06) no Salão Nobre da Faculdade
Nacional de Direito (FND) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Viva a Reforma
Agrária!!!!!
Nenhum comentário:
Postar um comentário