quinta-feira, 17 de junho de 2010

MST: movimento social, sim senhor!



Para quem esteve presente ontem (16/06) no debate “MST: organização criminosa ou movimento social?” na UERJ, a noite foi no mínimo emocionante, sobretudo pelas palavras de uma figura tão emblemática da política nacional, como é o caso de Plínio de Arruda Sampaio, que disputa a eleição à Presidência da República pelo PSOL (Partido do Socialismo e da Liberdade) nestas eleições.
Sempre muito simpático, Plínio respondeu as perguntas enviadas pela internet e pelos presentes (numa dinâmica, por sinal muito bem formulada pela organização do evento) de forma bem humorada, mas bastante objetiva. De acordo com o presidenciável, “a Reforma Agrária é indispensável se quisermos viver em um país mais justo”, ressaltando que “o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) é o movimento social mais importante que o Brasil criou”.

Brincando com os estudantes, o Procurador aposentado do Estado de São Paulo, falou que esse é a hora (se referindo ao período da faculdade) para viver de fato: beber, namorar, ficar de papo pelos corredores e nos barzinhos, enfim, aproveitar a vida. Segundo ele, na faculdade de Direito, não vale a pena perder tempo estudando como se formula um “processo de container” (ou seria contrato de container? Não lembro mais), pois estes aspectos burocráticos da carreira se aprendem no dia a dia. “O que se deve priorizar nos tempos de estudante”, afirmou, “é a chance de debater, trocar idéias”.   
Além de Plínio, estiveram presentes outras figuras importantes para o debate deste tema, tal como Marcelo Durão, coordenador nacional do MST, que, ao responder uma pergunta acerca dos possíveis atos de violência praticados pelo movimento, respondeu indagando o que as pessoas entendem por violência: “seriam os atos legítimos e legais de ocupação da terra ociosa ou a forma como esses atos são rechaçados pelo Estado policial?”, indagou.
Também se mostraram bastante pertinentes as palavras de Carlos Henrique Gondim, Procurador Federal junto ao INCRA no Rio de Janeiro, explicando como se dá o processo de desapropriação da terra. Segundo ele, os juízes do Rio são bastante parciais com relação à questão da Reforma Agrária, inclusive se posicionando contrário ao que está estabelecido na lei. Para ilustrar sua fala, usou como exemplo um caso ocorrido no interior do Estado, em que um juiz, por ser amigo de um fazendeiro, que teve a terra ocupada, ficou atrasando o andamento do processo até que o proprietário da terra pudesse tirar alguma vantagem na disputa. Isso, segundo o procurador, comprova que o caminho da legalidade quase nunca é viável para esse tipo de movimento, tendo em vista esta predisposição dos juizes em se posicionarem contra os trabalhadores rurais.
Outra fala (pra mim a mais importante de todas) de grande valia para o debate, foi a de Paula Mairam, jornalista, ex-reporter da Folha de São Paulo e do Jornal do Brasil. Segundo ela, existe uma orientação, se não explicita, mas pelo menos reconhecível, nos grandes veículos de comunicação, de que o tratamento dispensado ao MST tem de ser o mais hostil possível. Na hierarquização das notícias (o que deve vir em destaque), por exemplo, se o MST faz uma coisa que os donos de jornais se sentem obrigados a reconhecer como positivas, a informação sairá em um espaço pouco visível, no final de alguma página interna do jornal. Ao contrário, se o movimento prática qualquer ato (seja ele qual for), este é logo tachado como crimino, e é com esse adjetivo (criminoso) que ganha destaque na primeira página.
O debate que foi organizado pelo Núcleo Estudantil de Apoio Reforma Agrária (NEARA), Movimento "Direito Para Quem?", Associação de Docentes da UFRJ, Associação de Docentes da UERJ, Consciente Coletivo, Programa de Estudos da América Latina e Caribe, Outro Brasil – LPP, GeoAgrária, Nós Não Vamos Pagar Nada, Projeto de Pesquisa Sociologia Urbana/FND/UFRJ, LOCUSS/ESS- Rede de pesquisa sobre poder local, políticas urbanas e serviço social, CACS – UFRJ e Campanha Somos Todos Sem Terra se repetirá nesta quinta-feira (17/06) no Salão Nobre da Faculdade Nacional de Direito (FND) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Viva a Reforma Agrária!!!!!

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